Para mim é a palavra mais bonita do dicionário “obrigação”– dizia ele durante discursos de campanha Donald Trump. A sua paixão pelas tarifas ficou evidente tanto durante como fora da campanha. O republicano apresentou as tarifas como uma solução gratuita para as finanças públicas da América, fortalecendo a indústria, baixando os preços, um método para prevenir guerras e acabar com o tráfico de drogas e a imigração ilegal.
Dever sobre tudo? O controverso plano de Trump mudará a economia global?
Anúncios de Trump – incluindo: introdução de um imposto básico para todos os produtos estrangeiros de 10 a 20 por cento. e uma tarifa de 60% sobre produtos provenientes da China – há muito que suscitam preocupações entre economistas e governos de outros países, especialmente os aliados da América.
De acordo com o professor Kenneth Reinert, especialista em comércio internacional da Universidade George Mason (GMU), na Virgínia, essas preocupações são plenamente justificadas.
Muitas dessas ideias são extremas e já criam muita incerteza quando se trata de relações comerciais internacionais. Suas exigências são por um direito aduaneiro básico de 10% ou um direito aduaneiro de 60%. China – embora ele também tenha falado recentemente sobre 10 por cento – seria uma violação das regras da Organização Mundial do Comércio e uma mudança muito grande que perturbaria as cadeias de valor globais – Reinert diz ao PAP.
Ele acha que outros países não decidirão retaliar, mas está errado. Já durante o seu primeiro mandato vimos que a China, em particular, fez isto, e de uma forma muito significativa e ponderada. Portanto, a ideia de que os Estados Unidos podem vencer guerras comerciais está errada – acrescenta.
De acordo com a análise do centro do Peterson Institute of International Economics (PIEE) apresentada por Tarifas Trump aumentaria o custo de toda uma gama de bens, desde eletrônicos até brinquedos, roupas, combustívelsobre alimentos importados, por exemplo, como escreveram os autores do documento, as famílias americanas – bem como as empresas – “quase certamente sentiriam” as tarifas propostas por Trump.
Como observa Reinert, a ameaça é de 25 por cento de direitos aduaneiros sobre os produtos do México e Canadá – Trunfo ameaçou importá-los se esses países não acabarem com a migração ilegal e o tráfico de drogas; isto poderá ser particularmente grave dada a integração das economias destes países. O especialista explica que peças de, por exemplo, automóveis e outras mercadorias podem atravessar a fronteira várias vezes durante a produção e que sempre são cobrados direitos aduaneiros sobre esses produtos semiacabados.
Muitos comentadores e especialistas – incluindo o futuro chefe do Departamento do Tesouro, Scott Bessent – acalmaram as preocupações empresariais sobre as tarifas, alegando que as exigências do presidente eleito são uma tática de negociação e visam alcançar melhores acordos comerciais ou objetivos políticos. Isto também se aplica à Europa; Trump sugeriu abertamente em entrevistas que estava a tornar o envolvimento americano na NATO dependente de os países europeus tratarem “bem” os EUA no comércio. Robert Wilkie, o representante da equipa de Trump responsável pelo Pentágono, enviou uma mensagem semelhante aos embaixadores dos países da UE em Washington.
Segundo Paweł Kowal, chefe da comissão parlamentar de relações exteriores, os receios relacionados com estas declarações são exagerados.
EUA versus o resto do mundo. Economistas alertam sobre a política tarifária de Trump
Como podemos tornar isso uma sensação? É assim mesmo? guerra comércio entre os Estados Unidos e a União Europeia? Trump disse o óbvio: que quer ter boas relações comerciais com a Europa. Trata-se de um processo de negociação, de um processo político. Não vamos olhar para a administração Trump como inimiga. Não estou a pensar senão em boas relações comerciais entre a União Europeia e os Estados Unidos – disse Kowal em entrevista ao PAP.
De acordo com Reinert, experiências anteriores com a utilização de tarifas por Trump como ferramenta de negociação não mostram que o presidente recém-eleito seja um mestre em negociações. O especialista lembra-nos o acordo com a China que pôs fim à guerra comercial iniciada durante o primeiro mandato de Trump. Embora o presidente tenha anunciado que o acordo foi um grande sucesso, segundo Reinert, o acordo não resolveu de facto os principais problemas e a China não o cumpriu.
Se esta é uma tática de negociação, é uma tática fraca, porque Trump perdeu aquela guerra”, afirma o interlocutor do PAP. Mesmo que Trump tenha a impressão de ter vencido, “para a comunidade empresarial internacional, não são as impressões que importam, apenas os factos”. – acrescenta.
O professor destaca ainda que o maior risco de se iniciarem guerras comerciais não está tanto relacionado aos custos diretos, mas sim ao comprometimento de todo o sistema comercial internacional.
Trump diz que as atuais condições (comerciais) são injustas para a América. Mas as pessoas precisam de compreender que a Organização Mundial do Comércio, todo o sistema de comércio internacional, foi concebido em grande parte pelos Estados Unidos para servir os seus interesses – e, de facto, contém excepções às suas regras que beneficiam os Estados Unidos, tais como os subsídios agrícolas. – explica Reinert. Acrescenta que minar este sistema terá consequências mais amplas, uma vez que afectará também o funcionamento do comércio entre o resto do mundo.
Segundo o economista O sucesso de Trump é um sintoma de uma tendência mais ampla de afastamento do comércio livre e de direcção ao nacionalismo económico.
Este é em grande parte um fenômeno psicológico. Todo o movimento eurocéptico na União Europeia, o movimento MAGA nos Estados Unidos. Estas são práticas de psicologia política e funcionam. Isto não significa que beneficiem os cidadãos – pelo contrário – mas podem convencê-los de que beneficiam disso – Reinert resume.