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Opinião: Sucesso movido pela sinceridade de ‘A Charlie Brown Christmas’

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É difícil imaginar as férias sem “A Charlie Brown Christmas”. A transmissão de 1965 se tornou um marco na temporada por gerações.

Mas esse querido especial de TV quase não foi ao ar. Os executivos da CBS acharam o programa de 25 minutos muito lento, muito sério e muito diferente dos espetáculos alegres que achavam que o público desejava. Um desenho animado sobre uma criança deprimida em busca de aconselhamento psiquiátrico, sem trilha sonora, animação lo-fi e passagem bíblica, parecia fadado ao fracasso.

Mas contra todas as probabilidades, tornou-se um clássico. O programa transformou “Peanuts” de uma história em quadrinhos popular em um império multimídia – não porque fosse chamativo ou complacente, mas porque era sincero.

Como professor de administração que estudou a franquia “Peanuts”, vejo “A Charlie Brown Christmas” como um momento histórico fascinante. Hoje em dia, é improvável que um personagem de desenho animado despretensioso tenha ideias poderosas e instigantes. O especial aconteceu depois de uma batalha de última hora. Um tanto inesperado, o produtor Lee Mendelson recebeu um telefonema da agência de publicidade McCann-Erickson: A Coca-Cola queria patrocinar um especial animado de Natal.

Mendelson não havia conseguido convencer a agência a patrocinar um documentário “Peanuts”. Desta vez, porém, ele garantiu a McCann-Erickson que os personagens se encaixariam perfeitamente.

Mendelson ligou para o artista de quadrinhos Charles “Sparky” Schulz e disse que acabara de vender “A Charlie Brown Christmas” – e que eles teriam apenas alguns meses para escrever, animar e transmitir o especial.

Schulz, Mendelson e o animador Bill Melendez trabalharam rapidamente para montar um enredo. O cartunista queria contar uma história que ultrapassasse o brilho do comercial de fim de ano e trouxesse o foco de volta para algo mais profundo.

Enquanto Snoopy tenta vencer um concurso de luzes de Natal e Lucy se autodenomina “Rainha do Natal” no jogo da vizinhança, um desamparado Charlie Brown procura “o verdadeiro significado do Natal”. Ele segue até o terreno local de árvores de alumínio, que estava na moda na época. Mas ele é atraído pela única árvore – uma coisinha despretensiosa e desarrumada – inspirada no conto de fadas de Hans Christian Andersen, “The Fir Tree”.

Escolhas controversas

Esses pontos da trama provavelmente encantariam a rede, mas outras escolhas que Schulz fez se mostraram controversas.

O show usaria vozes de crianças reais em vez de atores adultos, dando aos personagens um charme simples e autêntico. E Schulz se recusou a adicionar uma faixa risada, um padrão na TV animada da época. Ele queria que a sinceridade da história fosse independente, sem incentivos artificiais para rir.

Enquanto isso, Mendelson convocou o músico de jazz Vince Guaraldi para compor a trilha sonora. A música era diferente de tudo que você normalmente ouve em programas de animação, combinando profundidade provocativa com a inocência da infância.

O mais preocupante para os executivos é que Schulz insistiu em incluir a história central do Natal, talvez na cena mais crucial do especial.

Quando Charlie Brown retorna alegremente para seus amigos com a árvore estreita, a turma ridiculariza sua escolha. “Acho que realmente não sei do que se trata o Natal”, ele suspira.

Gentilmente, mas com confiança, Linus garante: “Posso lhe dizer o que é o Natal”. Pedindo “Luzes, por favor”, ele caminha silenciosamente até o centro do palco.

No silêncio, Linus recita o Evangelho de Lucas, capítulo 2, com a história de um anjo que aparece aos pastores trêmulos: “E o anjo lhes disse: Não temais, porque eis que vos trago novas de grande alegria para todos os povos; . Porque hoje vos nasceu, na cidade de David, um Salvador, Cristo, o Senhor.

Ele conclui com as palavras da “grande companhia” que apareceu com o exército celestial: “Glória a Deus nas alturas, e paz na terra, boa vontade para com os homens”, e pega seu cobertor de segurança e caminha para os bastidores. O resto da turma logo percebe que a árvore de Charlie Brown não é tão ruim assim: ela só “precisa de um pouco de amor”.

Quando Schulz discutiu esta ideia com Mendelson e Melendez, eles hesitaram. Durante grande parte da história americana, o cristianismo protestante foi o padrão na cultura americana, mas nos anos após a Segunda Guerra Mundial, a sociedade tornou-se um pouco mais consciente de abrir espaço para católicos e judeus americanos. Sem saber como lidar com as mudanças nas normas, muitas empresas de entretenimento tradicionais na década de 1960 tendiam a evitar temas religiosos.

Ao verem as provas do especial, os executivos da CBS ficaram chocados com os aspectos bíblicos. Mas simplesmente não houve tempo para refazer todo o arco dramático e retirá-lo não era uma opção, pois os anúncios do patrocinador já haviam sido veiculados.

Sucesso instantâneo

Felizmente para a franquia “Peanuts”, quando o especial foi ao ar em 9 de dezembro de 1965, foi um sucesso instantâneo. Quase metade dos lares americanos assistiram e o programa ganhou um Emmy e um Peabody Award. Schulz aproveitou algo que o público ansiava: uma mensagem honesta e sincera que superasse o comercialismo.

Milhões de telespectadores continuaram a assistir ao especial nos quase 60 anos desde que foi ao ar pela primeira vez.

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